“Estamos esperando”. Assim respondem, resignadas, as pessoas envolvidas na conclusão da venda de caças para o Brasil. Elas esperam há meses a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A licitação destinada a substituir 36 aviões de caça expira no fim do ano. O Rafale, caça construído pela francesa Dassault, é considerado favorito desde que o chefe de Estado manifestou sua preferência, quando recebeu seu colega Nicolas Sarkozy em Brasília, no dia 7 de setembro de 2009. O Rafale concorre com o americano F-18 Super Hornet da Boeing, e o sueco Gripen NG da Saab.

O ministro francês da Defesa, Hervé Morin, declarou, na quinta-feira (15), estar esperando “tranquila e serenamente” por um anúncio em julho. Em princípio, falta uma última etapa, aquela na qual o ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, entregará seu relatório de avaliação técnica, baseado no estudo de uma comissão da Força Aérea Brasileira (FAB). Com o relatório em mãos, o presidente Lula consultará o Conselho de Defesa Nacional, antes de se pronunciar. Mas Jobim vai adiando o prazo a cada mês.

O cronograma político não facilita uma decisão. O primeiro turno das eleições presidenciais acontecerá no dia 3 de outubro. Pressionado, o presidente Lula se comprometeu a “consultar todos os setores da sociedade civil”, uma vez que o custo do rearmamento da FAB será assumido pelo seu sucessor.

Os militares brasileiros foram seduzidos pelo avião sueco, especialmente por causa do custo da hora de voo, calculado em US$ 4 mil, enquanto a do Rafale seria de US$ 14 mil. Mas as conclusões de seu estudo seriam no final favoráveis ao Rafale, a fim de “corresponder” à nova “estratégia nacional de defesa”.

O chefe do Estado e seu ministro da Defesa nunca esconderam sua preferência pelo caça francês. Todas suas declarações vão nesse sentido. Por razões geopolíticas, garantem, acreditando que o Rafale oferece a transferência de tecnologia exigida. A Dassault garante que seu compromisso é claro, pois ela domina a fabricação do avião do começo ao fim.

As autoridades brasileiras poderiam tentar obter, em troca, um gesto nas negociações entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, a união alfandegária sul-americana, retomadas em maio. O acordo tropeça há anos em subvenções da Política Agrícola Comum (PAC) da UE. Em 14 de julho, o presidente Lula se comprometeu a “amolecer o coração dos franceses” para chegar a um acordo antes do fim do ano.

Enquanto esperam, os concorrentes não desistiram. O novo embaixador americano, Thomas Shannon, ex-secretário de Estado adjunto, prometeu aos brasileiros “uma transferência de tecnologia sem precedentes” se optarem pelo F18. A Boeing garantiria uma compensação financeira se obrigações contratuais não forem cumpridas. Mas a venda de material militar americano é sujeita a uma autorização do Congresso, e o governo brasileiro desconfia. Brasília não se esqueceu de que Washington a impediu de vender os Super Tucanos de sua Embraer à Venezuela de Hugo Chávez. Ora, o Brasil tem a ambição de exportar os aviões militares fabricados em seu território.

Os suecos têm a estima dos militares. Eles também conseguiram o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que o operário Lula da Silva dirigiu 30 anos atrás, e de seu companheiro de luta Luiz Marinho, ex-ministro do Trabalho. Hoje prefeito de São Bernardo do Campo, periferia de São Paulo onde o presidente Lula tem residência, Marinho foi convidado pela Saab para ir à Suécia. Com os sindicalistas, ele menciona a criação, prometida pela Saab, de uma fábrica e de 6 mil empregos em São Bernardo, e de 22 mil empregos indiretos na região.

A Dassault, por sua vez, previu a criação de 29 mil empregos em 10 anos, e explica que seu local de produção será “onde as autoridades o desejarem”. Certamente perto das fábricas da Embraer, em São José dos Campos, ou em Gavião Peixoto, no Estado de São Paulo.

Por causa de seu custo, muito já se escreveu sobre o caso. E ele poderá entrar na campanha eleitoral, que começou em 6 de julho. A candidata do presidente, Dilma Rousseff, está ombro a ombro com o concorrente social-democrata José Serra. Este, que acaba de deixar o governo de São Paulo, não manifestou sua preferência, mas é próximo de Nelson Jobim, tendo ambos sido ministros de Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula.

Filho de militar, Cardoso havia tentado reequipar a FAB, antes de deixar o cargo em 2002. Na época, a Dassault ofereceu seu Mirage 2000-5. Hoje, a FAB está impaciente, pois seus velhos aviões correm o risco de não saírem do chão. O presidente Lula prometeu não deixar essa questão para seu sucessor.

FONTE/FOTO: Le Monde, tradução Lana Lim-UOL/parismatch.com